quarta-feira, 4 de junho de 2014

" QUERO QUE OS MEUS VERSOS SEJAM ROUPA A SECAR AO SOL "





Os dias sem poesia afastam-me de ti: como o céu

quando abre uma fenda e deixa verter a eternidade

sobre o inverno do mundo. Amo a lua das crianças,

amo as salinas abandonadas do teu passar

e todos os venenos divinos do amor: a alma

liquefeita dos mitos derramada na planície

do esquecimento.

Quero que os meus versos sejam roupa a secar ao sol

entre duas janelas, coisas de uso que se lavam

cada semana até não poderem lavar-se mais. A poesia
    
não é cosa mentale [isso é a pintura, disse Leonardo]
 
é coisa de estender no arame com a humidade efémera
 
de um beijo que seca enquanto se vai ao trabalho e

se recolhe num braçado ao regressar


                                                         Nuno Higino

2 comentários:

Rita Freitas disse...

Tão bonito! Gostei imenso.

Beijinhos

Lídia Borges disse...


Há poemas que nos leem.


Um beijo