domingo, 27 de abril de 2014

FALTA A ESTE AZUL QUALQUER COISA PARA SER PRIMAVERA





O tempo amornou, mas falta a este azul qualquer coisa para ser primavera…

Ao dia pardo e húmido de ontem com chuva de molha-tolos, veio hoje o sol derreter a névoa e tingir de fios azúis céu e mar.

Que lindo está tudo por aqui…

Nas rochas que a maré deixou a descoberto espreitam caranguejos a melhor onda para banhar-se entre as estrelas vestidas de algas e limos…

O mar perfuma a beirada com flores de espuma e ensaiam as gaivotas recém -nascidas passos de dança sob o olhar atento das aves mais velhas…

Há uma brisa que parece levar para longe os restos do largo inverno…

O inverno que desgrenhou as areias, partiu o coração às conchas e fez saltar os barcos para terra…

Talvez falte a este azul as andorinhas. Pois se são elas que trazem nas asas a primavera, ainda por aqui não vi passar nenhuma.

Por onde andarão as cores ternura com que pintam o azul as andorinhas?

sexta-feira, 25 de abril de 2014

UM TESOURO CHAMADO LIBERDADE





(…)  
    
Contavam-lhes que o povo daquele país tivera um dia um imenso e belo tesouro e que alguém lho roubara. E que era um tesouro tão grande e tão valioso que, sem ele, não podiam ser felizes.

- Um tesouro? – perguntavam os visitantes muito surpreendidos.

- Sim, um tesouro… A Liberdade.

(…)

Então explicavam-lhes: naquele país as pessoas não podiam fazer o que queriam, nem podiam dizer o que pensavam ou o que sentiam, nem, como eles, partir e visitar outros países e conhecer outros povos, viviam fechadas no seu país como se ele fosse uma prisão. Nem sequer podiam contar um segredo a ninguém, porque seriam presas, ou até mortas.

- Mas isso deve ser uma grande infelicidade! – diziam os visitantes.

- Não admira que vocês estejam sempre tão tristes!

(…)

Até que um dia chegou em que, no País das Pessoas Tristes, as pessoas decidiram reconquistar o seu tesouro. Os soldados reuniram-se nos quartéis e pegaram nas suas armas para arrancar finalmente o tesouro das mãos dos ladrões. E toda a gente saiu alvoraçadamente para a rua e acompanhou os soldados, cantando e gritando: “ Viva a liberdade! Viva a liberdade! “

Os corações exultaram de alegria e as janelas encheram-se de bandeiras e cravos vermelhos: os soldados puseram cravos vermelhos nas espingardas… (…)

Todo o país se transformou numa grande festa, ruidosa e transbordante…

(…)

Esse país agora já não se chama País das Pessoas Tristes, chama-se Portugal e é o teu país. E o tesouro pertence-te a ti, és tu agora que tens de cuidar dele, guarda-o muito bem no fundo do teu coração para que ninguém to roube outra vez.

Porque esta história não é uma história inventada. É uma história verdadeira, aconteceu mesmo.


  O TESOURO, Manuel António Pina

     " Nós a dançar o 25 de abril " - Desenhos e Título, Isabel Rio

quarta-feira, 23 de abril de 2014

FAZ DE CONTA QUE LÊ





Porque antes de ler é preciso gostar dos livros!



segunda-feira, 21 de abril de 2014

UM JARDIM COM AS CORES DO SONHO





Todos os anos as flores do jardim se reuniam frente ao caramanchão para ouvir a história que o velho cravo vermelho tinha para contar.

 Ele era descendente da mais pura linhagem de cravos vermelhos e quase o único sobrevivente, que conhecia a verdadeira história de abril, a história maravilhosa de uma revolução feita pelos seus antepassados e que alguns invejosos tinham tentado já silenciar.

Este ano no governo do jardim os amores-perfeitos decidiram que a velha, sempre a mesma história, não seria contada frente ao caramanchão, para aí estavam reservadas outras histórias de faz de conta. Se o velho cravo de abril queria contar a sua história ele que procurasse outro lugar, o problema era dele!

E se era coisa que não era mesmo problema, era encontrar um lugar para ouvir histórias no jardim. Ao contrário dos amores-perfeitos, o cravo sabia que não interessa o tamanho do lugar para contar a história, mas sim o tamanho da história e ele tinha uma história grande e maravilhosa para contar…

O novo lugar da história foi comunicado através do faceflower e outras redes florais e todos ficaram a saber que o local escolhido seria a fonte dos sonhos.

As primeiras a chegar foram as margaridas que se colocaram de um lado e outro da fonte, já que os lugares do meio estavam reservados aos heróis de abril,-os cravos vermelhos-. Depois vieram as rosas, as papoilas e todas as flores que povoavam o jardim.

Estavam também alguns amores – perfeitos roxos, vieram só para ajudar a manter a ordem, mas o resto do jardim não parecia nada preocupado com a sua presença.

Chegou então o velho cravo vermelho…

Ao ver que todo o jardim estava ali para ouvir pela quadragésima vez a história maravilhosa de abril, o velho cravo não conseguiu disfarçar a emoção…

Amigos; Disse.

- Agradeço o tempo que dispensaram para ouvir uma história que não é minha, mas de todo o nosso florido e perfumado jardim e da qual me orgulho de fazer parte.

Que bom, ver tantas flores jovens entre vós. Flores que nasceram todas depois daquele abril maravilhoso…

E eu estou aqui só para lembrar que antes do dia 25 de abril no calendário das flores, este era um jardim descolorido e cheio de sombra, um jardim onde havia hora marcada para apanhar sol e chuva e onde só os antúrios e seus apoiantes faziam e desfaziam a seu belo prazer, regras para as restantes flores…

Mas nos jardins meus amigos, há pássaros. Pássaros que trazem novas, que ajudam a pintar sonhos… E foi um desses pássaros que falou ao meu avô de jardins onde todas as flores escolhiam os seus representantes, onde os sonhos podiam ser reais para todos os que os sonhassem …

E assim, o governo déspota e autoritário dos antúrios teve os dias contados.

Ao meu avô juntaram-se outros cravos, muitos, e aos cravos, quase todas as flores do jardim e a partir desse dia, este passou a ser um jardim luminoso e colorido.

Porque não há nada mais maravilhoso que um jardim com as cores da liberdade!

sexta-feira, 18 de abril de 2014

PEDAÇOS DE VERSOS


                           ( imagem retirada da web )




No lençol

deixamos pedaços de versos por acabar…
  
Amei-te tanto nesse dia.

Lembro-me que inventei conchas no teu cabelo

e flores de espuma trepadeiras pela tua pele

enquanto arrancavas cerejas da minha boca…

Eu nem sei se há cerejas no mar

mas isso que importa

se eram só pedaços de versos

versos espalhados 

que os anjos nem tiveram tempo de tricotar…

Pedaços só…

Pedaços de versos que não chegaram a ser poema.