quinta-feira, 27 de março de 2014

AURORA





Por detrás desta janela mora Aurora.

Mora ela, a solidão e o tédio dos dias.

Talvez importe dizer, que os olhos de Aurora já contaram muitas auroras desta janela…

Mas hoje, a vida de Aurora está presa por um fio… Um fio de sol, que acorda Aurora todas as auroras.

Quando amanhece a chover na janela, Aurora cerra os olhos; sim, Aurora tem medo da noite! Um medo terrível! Ela que era uma mulher tão corajosa… É que à noite, aparecem todos os monstros de uma vida e a vida de Aurora era já longa… Oitenta e sete anos!


Sempre que chovia na janela a solidão fazia-se ainda mais comprida e Aurora cerrava os olhos, na esperança de que quando voltasse a abri-los o sol estivesse de volta…


Aurora fora uma mulher feliz! Casou apaixonada e teve três filhas. Viveram felizes, como todas as famílias, as filhas cresceram, casaram, tiveram filhos, Aurora ficou viúva…

Viúva e só… De vez em quando as filhas e os netos vinham visitá-la, mas aos poucos as visitas tornaram-se demasiado esparsas e Aurora ficava cada vez mais sozinha…

Enquanto conseguia subir e descer as escadas do 2º andar onde morava, os dias de Aurora, dividiam-se entre um café na pastelaria em frente e quase todo o dia na sala de leitura da Biblioteca Municipal… Aurora sempre gostou de ler, os livros sempre lhe acompanharam os dias e Aurora era feliz! Mas agora, agora os seus olhos já não lhe deixam ver as maravilhas que os livros transportam e as pernas, ai as pernas, mal conseguem levar Aurora até à janela… Por isso mal se levanta a aurora, vai devagar até à janela, senta-se na sua cadeira já quase tão velha quanto ela e ali fica… 
Não sabe já o nome aos dias e aos meses… Vai lendo as estações no céu e nas árvores que avista da janela… 

Em dias de sorte pousa na janela um pombo e Aurora conta-lhe memórias felizes…

Sorri e fica mais presa à vida… Mas quando o véu negro da noite envolve a janela, Aurora tem medo. Medo das sombras que lhe povoam o quarto, lhe devolvem as dores do corpo e da alma…

Aurora não reza, espera o sol à janela…

O sol na janela para aquecer a solidão!

domingo, 23 de março de 2014

NEVE EM FLOR





Uma a uma,

desprendem-se as pétalas da cerejeira

e neva no jardim.

quarta-feira, 19 de março de 2014

NO FIM DO INVERNO





No fim do inverno-

Estendem as magnólias

tapetes à primavera.

quarta-feira, 12 de março de 2014

POEMA BREVE PARA PÁSSAROS DE PAPEL






Eram de papel os pássaros
que voaram na manhã
pela mão dos meninos…

Pássaros com penas de mil cores
como as dos meninos que os inventaram…

Pássaros misturados no azul
em voo leve e breve
que os pássaros
nasceram para voar
mesmo que feitos de papel!