domingo, 20 de outubro de 2013

O QUINTAL INVENTADO DO AVÔ




Sempre que estava em casa, o Avô morava no quintal.

Talvez o quintal fosse um lugar inventado pelo Avô para viver melhor, pois sempre que o encontrava por lá parecia tão feliz…

Os abraços do Avô cheiravam a terra molhada, misturada com salsa, erva cidreira e hortelã mourisca. Coisas de quem fica por ali a embalar as plantas…

Ela adorava quando o Avô lhe falava dos segredos e silêncios da horta.

Aprendera que as plantas crescem devagar e em silêncio, que no quintal do Avô os melhores morangos eram os tocados de lagartas. Lagartas que também vestiam as couves de rendas e depois se divertiam a trepar às árvores de fruto para se esconderem numa qualquer maçã ou pera…

O Avô ensinara-lhe todos os nomes das plantas e dos frutos da horta e a ler neles as estações.

Mas não sabia que chuva inesperada de memórias, lhe tinha feito lembrar o dia, em que depois de ajudar o Avô a regar a horta, este se sentou no cantinho do costume e tirou do bolso o caderno onde escrevia histórias e canções. Mas ao contrário do que esperava, o Avô não escreveu nada no caderno. Rasgou sim, duas folhas com que fez dois barquinhos.

Dois barquinhos cheios de sonhos, que puseram a navegar no canteiro das alfaces enquanto a terra não engolia a água.

O Avô tinha destas coisas…

Sonhos que navegavam a todo o vapor no canteiro das alfaces!


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