domingo, 30 de junho de 2013

ITINERÁRIO


( Imagem retirada da web )



Há um comboio ao fim da tarde

que me leva à estação do teu riso

a uma casa com música

a um jardim com magnólias.

Há um comboio

que entorna a tua sombra no meu chá

que enlaça as tuas mãos nas minhas

e depois te leva de mim

deixando na gare uma mala de saudades

que não sei desfazer nem arrumar…


terça-feira, 25 de junho de 2013

UMA CASA NO MEIO DE LIVROS




Quem gosta de ler sabe que os livros são como casinhas para morar.

Alguns são como casas em que gostamos de demorar e outros há em que apetece morar toda a vida. Talvez haja os que são como casas de férias, casas de amigos… Ah! E aqueles que quando abrimos a porta temos a certeza que não interessa demorar.

Há ainda os que nos permitem morar nas nuvens, na lua, em grutas marinhas, em conchas…

Claro que quem não gosta de ler limita-se a viver em casas vulgares, com paredes, telhado…

Casas que ganham muito pó que não é de livros e onde nunca entra nem o sol nem o sonho.

Foi com o propósito de levar os que não gostam de ler a mudar de casa que a minha amiga Alzira me convidou a aparecer na escola sede, com dois ou três livros onde apetecesse morar.

A ideia era ser fotografada com os livros mais preferidos e a foto iria juntar-se à de outros professores e demais elementos da comunidade nas paredes da biblioteca.

Confesso que a minha primeira reação foi declinar o convite. Nunca fui muito fotogénica e tenho pra mim que é algo que piora com a idade. Mas esse era o problema menor. Que livro escolheria eu?! A dificuldade prendia-se com o número, eu não tenho só dois ou três livros preferidos!

- Bom, quem diz dois ou três… Tu é que sabes. Disse-me a Alzira!

Mas olha que a causa é muito nobre. Quem sabe os teus livros não se tornam nos livros de outros!

Mal sabia a Alzira de como detesto emprestar os meus livros!

Eu sei! Ser invejosa é uma coisa terrível! Mas não consigo evitar! Os meus livros estão cheios de anotações, sugestões, florinhas… E como vou eu separar-me de livros que não se deixam ler?! Como vou emprestar o meu, “Coração de Vidro” de José Mauro de Vasconcelos? É que se me apetece ver,” a manhã a espreguiçar-se vagarosa e a distender os dedos alvos sobre cada folha.” Ou se me apetece navegar no, “ Mar Absoluto” de Cecília Meireles, ou se antes me apetece ler em Clarisse Lispector, como é bom um livro de se comer, ou de se dormir…

Talvez eu queira redescobrir, como” são livres as palavras de gramaticar”, em Manoel de Barros.

Ou quem sabe, hoje me encante com uma” Carta, “de Katherine Mansfield.
Ou…

Bem, a Alzira tinha razão. Fazer nascer leitores é causa nobilíssima, além do mais, os livros eram só para fotografar…

Mas será que uma mochila cheia de livros não era demais?!

Paciência! Nestas como em quase todas as coisas, vale mais pecar por excesso que por defeito!

E lá apareci no clube de fotografia com uma mochila carregada de livros!
Ao contrário de quase todos os outros participantes, cujas mãos chegaram para segurar os livros preferidos, eu precisei de uma ajudinha dos alunos do clube de fotografia.

Podia ter levado só um livro de, José Mauro de Vasconcelos, mas entre,” Coração de Vidro”, “ Vamos Aquecer o Sol”, e “ O Palácio Japonês”. Não consegui deixar nenhum fora da foto.

Nem podia deixar de levar, “ A Menina do Mar” de Sophia, nem tão pouco, “O Palhaço verde” de Matilde Rosa Araújo.

Nem as, “Crónicas de A-Ver-O-Mar “ de Luísa Dacosta. “ A Rainha dos Frutos”, de Nuno Higino…

Alguns livros, tive de segurá-los no colo e acabei a falar deles com os alunos, que me perguntavam se conseguia lembrar-me do que diziam todos os livros, que eles achavam muitos e eu dizia serem muito poucos.

Claro que me lembro de tudo o que dizem! Não é à toa que tenho uma casa em cada um deles!





quarta-feira, 19 de junho de 2013

QUANDO TU ERAS PEIXE





Quando tu eras peixe

eu sentava-me no silêncio do lago

e esperava que chegasses

e de repente

parecia-me  ver-te

por entre os ramos das árvores

que o vento balouçava

tu eras um peixinho vermelho

que abria preguiçosamente as asas

e eu em bicos de pés

sonhava

que vinhas pousar-me nos cabelos

e era primavera

quinta-feira, 13 de junho de 2013

FEITIÇO





Aguardo
junto às pedras da praia
que o mar me beije os cabelos
só assim poderei regressar 

domingo, 9 de junho de 2013

DESENHO PONTES


( Ponte sobre o Douro, Nadir Afonso )



Yo dibujo puentes para que me encuentres

Un puente de tela con mis acuarelas

Un puente colgante con tiza brillante

Puentes de madera con lapiz de cera

Puentes levadizos plateados, cobrizos..

Puentes irrompibles de piedra invisibles..

Y tu ¡Quien creyera! ¡No los ves siquiera!

Hago cien, diez, uno.. ¡No cruzas ninguno!

Mas como te quiero… dibujo y espero.

¡Bellos puentes para que me encuentres!

                                                                                                 Elsa Bornemann