domingo, 10 de março de 2013

O DEUS DO QUINTAL DO AVÔ





A Avó já estava vestida de domingo e terminando o pequeno-almoço comunicava ao Avô a sua intenção de ir à missa. A Avó desejava que o Avô a acompanhasse, mas este nunca o fazia. Ouvia-o sempre argumentar, que não precisava de procurar Deus na igreja, o seu Deus todo-poderoso, morava no quintal. Via-o por entre as videiras, as flores, a cerejeira, o pessegueiro…

Segundo o Avô António, Deus não gostava de espaços fechados e maravilhava-se tanto quanto ele, com as transformações que a natureza operava no seu quintal.

Que Deus não apreciaria passar uma manhã de domingo, ouvindo as águas do pequeno ribeiro que passava ao fundo do quintal. Ver os saltinhos da água afagando as pedras, numa música original e harmoniosa que só podia ser ouvida ali mesmo, no quintal do avô. No ribeiro, costumavam ainda namorar libelinhas e em noites de verão ouviam-se concertos de rãs. Eram tão afinadinhas as rãs do ribeiro… Lembra-se de tantas vezes-lhe terem embalado o sono. E provavelmente também ao Deus do quintal.

E como era bom ver a manhã chegar ao quintal. O sol infiltrava-se pelo imenso emaranhado de videiras e árvores de fruto, iluminando-lhes as folhas e os troncos e enchendo tudo de espanto. E quando o sol expulsava definitivamente o frio da noite, apareciam pássaros deslizando pelos céus em enorme chilreada. 

No quintal do Avô António, não morava nenhum espantalho. O Avô queria os pássaros nas árvores e não se importava se estes debicavam as cerejas, as ameixas, os figos… Achava graça às lesmas e caracóis que vestiam de rendas as couves e as alfaces e adorava descansar os olhos nas filas de flores coloridas que pontilhavam os canteiros, tal qual o deus que lhe venerava o quintal. 

1 comentário:

Mar Arável disse...

Tive um avô assim

incomensurável