sábado, 28 de abril de 2012

LUGARES MÁGICOS



(...)

A vista tira-me o ar:
aquele lugar onde o Douro
se lança nos braços do mar.


João Pedro Mésseder em, Porto Porto

terça-feira, 24 de abril de 2012

HISTÓRIA DE UMA FLOR
























                                                                     Sara - 3 Anos


 (...)

E a flor sorriu abrindo o vermelho
nítido das pétalas, o verde
nítido das folhas – que as
flores também podem sorrir.


Matilde Rosa Araújo, História de uma flor

sexta-feira, 20 de abril de 2012

PORQUE NÃO SEI COMO DIZER-TE


                                                              MARC CHAGALL


      
(…)


Durante a primavera inteira aprendo
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstrato
correr do espaço - e penso que vou dizer algo cheio de razão,
mas quando a sombra cai da curva sôfrega dos meus lábios,
sinto que me faltam um girassol, uma pedra,
uma ave - qualquer coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milagres
que dentro de mim é o sol, o fruto, a criança,
a água, o deus, o leite, a mãe, o amor,
que te procuram.


Herberto Hélder
                                                                        

quarta-feira, 18 de abril de 2012

LUGARES INESPERADOS E PALÁCIOS QUE ESTÃO AINDA POR EXISTIR



Quando entrei na sala esta manhã, estava longe de imaginar que daí a minutos viajaria até ao Japão com os meninos!

E a culpa foi do meu caderno! Quer dizer, o caderno não teve culpa de nada coitado! Estava bem quietinho na secretária, mas a capa do caderno suscitou a curiosidade dos meninos que olhando para a imagem se perguntavam, de onde seriam estes palácios.


 
- Vê-se logo que são palácios da China! Dizia a Bruna.

- Do Japão! Afirmava convicto o Gonçalo.

Os meninos olharam para mim esperando que desse razão a um dos dois. Apesar dos meus parcos conhecimentos em arquitetura do Oriente, eu sabia que os palácios e templos Japoneses e Chineses eram muito parecidos. Sendo que foram os Japoneses a inspirar-se nos Chineses. Mas como calculam, aos meninos isso não interessava grande coisa. Por isso, pegamos no globo terrestre e chegamos à conclusão que a China e o Japão nem ficavam assim tão longe… Talvez fosse essa uma das razões porque eram os palácios tão parecidos.



 
- A China é maior, deve ter mais palácios! Constatou o Pedro.

- Mas afinal são parecidos. Disse contente a Bruna.

E foi assim que os meninos se puseram a desenhar palácios de lugares inesperados e distantes e que ainda estão por existir.

Ou não?!









segunda-feira, 16 de abril de 2012

O GUARDA CHUVA-BARCO



Se os olhos vêem com amor o que não é, tem de ser.

Padre António Vieira



EU E OS MENINOS NAVEGANDO NO GUARDA CHUVA-BARCO DO DINIS.

domingo, 15 de abril de 2012

TRATADO SOBRE TERNURA




Pelas canções de LLuís LLach, já confessei aqui o meu amor de perdição. Atrevo-me até a dizer que dos cantautores de que gosto para mim é aquele que melhor canta a ternura.

Procurei há dias esta canção porque queria partilhá-la com uma amiga especial que acabara de perder alguém muito querido. Não cheguei a enviar-lha…

Dizia-me ela, que o mais terrível de tudo quando perdemos alguém, é ficar com a sensação que não fizemos nem dissemos, quase nada do que queríamos ou devíamos!

Se calhar nem precisamos de dizer ou fazer nada, porque aos que amamos,

“Simplesmente temos de deixar que nos deixem
E ter um ninho na nossa árvore com uma nuvem bem branca pousada num dos ramos…”
Para o caso de voltarem, ou não…

Considero esta canção um verdadeiro tratado sobre ternura e porque também quero dizer aqueles que amo, “ que para eles sempre terei um ninho na minha árvore, e uma nuvem branca presa num dos ramos”, vou partilhá-la aqui.


 
Un núvol blanc

 
Senzillament se'n va la vida, i arriba
com un cabdell que el vent desfila, i fina.
Som actors a voltes,
espectadors a voltes,
senzillament i com si res, la vida ens dóna i pren paper.

Serenament quan ve l'onada, acaba,
i potser, en el deixar-se vèncer, comença.
La platja enamorada
no sap l'espera llarga
i obre els braços no fos cas, l'onada avui volgués queda's.

Així només, em deixo que tu em deixis;
només així, et deixo que ara em deixis.
Jo tinc, per a tu, un niu en el meu arbre
i un núvol blanc, penjat d'alguna branca.
Molt blanca...

Sovint és quan el sol declina que el mires.
Ell, pesarós, sap que, si minva, l'estimes.
Arribem tard a voltes
sense saber que a voltes
el fràgil art d'un gest senzill, podria dir-te que...

Només així, em deixo que tu em deixis;
així només, et deixo que ara em deixis.
Jo tinc, per a tu, un niu en el meu arbre
i un núvol blanc, penjat d'alguna branca.
Molt blanc...



 
Sencillamente nuestra vida se aleja
como una rueca se deshila, termina.
Actores unas veces espectadores siempre
sencillamente y sin saber
la vida quita y da papel

Serenamente hay una ola que acaba,
quiza en dejarte que te venza comienza.
La playa enamorada no gusta esperas largas
y abre los brazos hacia ti porque se puede arrepentir.

Asi sin mas me dejo que me dejes
sin mas asi te dejo que me dejes
hice por ti un nido aqui en mi arbol
y una nube blanca colgada de una rama
muy blanca muy blanca

A veces cuando el sol declina lo miras
sabe y le pesa que sin lengua lo estimas
llegamos tarde a veces sin conocer que a veces
con un sencillo gesto al fin podría decirte que

sin mas asi me dejo que me dejes
sin mas asi me dejo que me dejes
hice por ti un nido aqui en mi arbol
y una nube blanca colgada de una rama
muy blanca





quinta-feira, 12 de abril de 2012

ALTERAR O SENTIDO DA CHUVA





Serenata à Chuva


Chuva, manhã cinzenta, guarda-chuva.
Entrar no contexto, dois pontos. Ele e ela
abraçados caminham sob o teto
do guarda-chuva que os guarda.
Pelas ruas vão com vontade de voltar
ao branco dos lençóis. Esse objeto prosaico
que às vezes se vira com o vento
torna-se objeto de poema. Dizer também
como a chuva é doce neste dia de verão.
Como o amor altera o sentido da chuva,
sim, como ela se eleva no ar e as frases se colam
ao vestido.
No interior da pele o poema mudou
desde que entrastes no guarda-chuva esquecido
a um canto do armário.
Talvez o amor seja tudo amar sem exceção.
Eu que nunca uso guarda-chuva
assino incondicionalmente este poema.


Rosa Alice Branco

PARA QUE SERVE UM GUARDA-CHUVA?



PASSEAR O CÃO!       ( Gonçalo)


OUVIR MELHOR A CHUVA!   (Bruna)


terça-feira, 10 de abril de 2012

NAVEGAR NA CHUVA



(…)



 Os grilos, nas noites de chuva, enchem o quarto de uma festa de guizos. O filó do cortinado fica tão friozinho!

E a água rola pelas pedras tão docemente, que navegando-se pelo seu rumor, chega-se ao país do sono sem medo nem dificuldade.


Cecília Meireles em, Olhinhos de Gato

sábado, 7 de abril de 2012

MAR" DE BEBER"



Bebo-o a colherinhas de olhos
na taça da manhã.
E nem ele se esgota,
nem eu me sacio.

Luísa Dacosta

terça-feira, 3 de abril de 2012

CONCHINHAS E LIVROS




No meio do mar havia um palácio onde morava uma Rainha.

A Rainha das conchas e conchinhas como era conhecida, pois não havia dia em que não fosse vista na beirada catando conchas, conchinhas e até pedrinhas.

Logo pela manhã e não eram raros os dias em que gostava de surpreender o sol, a Rainha abria a janela do seu palácio, aquela que ficava bem no meio do mar, e para os que acham que é difícil encontrar o meio ao mar, posso dizer que era aquela janela que não ficava nem à direita nem à esquerda, era mesmo, mesmo no meio… Aquela onde se pode ver o mar todo, todinho!

A Rainha abria a janela para respirar e beber o mar, gostava dele agitado e com muita espuma, salpicando-lhe o rosto e perfumando-lhe a pele…

Aproveitava ainda aquela hora para soltar alguns dos seus sonhos que eram muitos ao vento. Este em troca contava-lhe os segredos que ia ouvindo daqui e dali…

Então a Rainha descia à praia. Saltava nas ondas, corria na areia até chegar ao mar de conchas onde mergulhava tempos infinitos e onde tudo o resto deixava de ter importância. Ali estava ela, ela e as suas preciosas conchas. Bom, na verdade, nem as conchas eram só suas, nem estas eram assim tão preciosas. Mas a ser verdade que as conchas da beirada são de toda a gente, ela não se lembrava de ter visto em toda a praia alguém que não fosse ela, acocorado selecionando conchas, conchinhas e pedrinhas!

 Agora levava consigo só as mais raras, as de cores diferentes, acabava sempre por levar para o palácio mais do que a conta. Se lhe perguntassem quantas conchas tinha no seu palácio não saberia responder. Definitivamente tinha-lhes perdido a conta. Tinha-as de todos os tamanhos, formatos, cores, texturas. Guardava-as com ternura em caixinhas, que abria sempre que o mar não a deixava descer à praia ou simplesmente porque lhe apetecia adornar os cabelos de beijinhos, colocar um cinto de caracóis do mar no vestido, um colar de búzios… Uma vez fez até uns sapatinhos com conchas de mexilhão e cordões de algas, ficaram lindos! Pena que tivessem deixado de servir-lhe…

Mas tinha tudo guardado em caixinhas, caixinhas que empilhava nas estantes juntas aos livros.
Conchinhas e livros. Eram os bens mais preciosos da Rainha. Aqueles que não trocaria por nada, e que guardava na caixa forte do seu coração! 

Caixas e páginas de insignificâncias que faziam dela uma Rainha Feliz!




domingo, 1 de abril de 2012

VOO NOTURNO




Acreditava que ao fim da tarde o sol mergulhava nas águas para iluminar a vida das sereias e os seus belos jardins…

Sozinha na beirada apreciava o voo livre e silencioso das gaivotas, o vaivém  manso das ondas que remexiam as areias como que acomodando o sono às conchas.

Na praia começava a respirar-se a noite e ela experimentava mais uma vez um estado de alma tão raro…